Luta e vitória: qual a hora certa de adorar?


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Eu tinha 14 anos e era um domingo chuvoso do meio de março. Águas fechando o verão. Cheguei na igreja, sentei num dos bancos mais à frente e vi meu primo de 3 anos logo atrás parecendo contente ao brincar com sua mãe apesar de só conseguir enxergar com um dos olhos. O outro estava enfaixado e coberto porque tinha se projetado um pouco pra frente num ângulo estranho como se, de repente, tivesse decidido sair da cabeça dele pra dar uma volta. Eu ainda não sabia, mas o meu primo tinha sido diagnosticado com seis pontos diferentes de câncer tanto no cérebro quanto em outras partes do corpo das quais a minha memória de adolescente mal se lembra.

Daquele dia em diante, começamos uma campanha de oração com toda a fé que nem sabíamos que existia lá por dentro. Pedimos que Deus o curasse. Podia ser de qualquer maneira: durante a quimioterapia, sem a quimioterapia, por causa da quimioterapia ou só do dia pra noite como tantos outros casos de tantas outras pessoas que oraram e foram agraciadas com misericórdia infinita. E ele foi melhorando. Dia após dia, ele ia para os hospitais com um sorriso no rosto e cantando a música "Segurança" do Cantor Cristão que poucos devem conhecer ainda hoje.

Sempre vivendo em seu grande amor,
Me regozijo em meu Salvador;
Esperançoso, vivo na luz,
Pela bondade do meu Jesus!

Canta, minha alma!
Canta ao Senhor!
Rende-lhe sempre ardente louvor!

Sim, na época ele só tinha 3 anos, mas essa era a música preferida dele quando a gente cantava na igreja. Graças à bondade de Deus e às orações de várias pessoas que se mobilizaram em intercessão, a quimioterapia foi fazendo efeito e vencendo o câncer vagarosamente. Todos do hospital estavam felizes com a recuperação que já se via no horizonte e os pais também, apesar de exaustos física e espiritualmente. Eu só consigo imaginar quantas perguntas passaram por suas cabeças nesses dias. Nunca fui mãe então eu não faço ideia.

No meio de toda essa luta, uma das senhoras da igreja conversou com o meu tio e levantou uma questão importante: vocês estão orando pela cura e ele está começando a ser curado, mas já pararam pra perguntar qual é a vontade de Deus?

Eu não sei vocês, mas não acho que muitas pessoas nesse tipo de situação iriam levar essa questão a sério. O meu tio levou. E, depois dessa conversa, começou a orar de maneira diferente. Ao invés de pedir cura, ele imitava Cristo e dizia "Pai, se possível cura o meu filho, mas que seja feita a sua vontade e não a minha". Não se completou nem um mês antes que o câncer se espalhasse completamente pelo corpo do meu primo e aquela criança de 3 anos de idade se tornasse a memória mais recente que temos dele.

É claro que só essa parte da história já é uma lição enorme, mas ela não termina aqui. No dia do velório, outro domingo chuvoso, eu estava na mesma igreja sentada no mesmo banco - observando as pessoas que entravam numa tristeza infinita pra olhar o caixão e tentar encontrar naquele menininho careca e magro a mesma criança vibrante do porta-retrato logo acima -, quando chegou a hora de finalmente fechar o caixão. A mãe dele se aproximou, tocou o rosto dele, olhou pra o teto da igrejinha e, com lágrimas nos olhos, no rosto e no chão disse uma coisa que eu nunca vou esquecer: Obrigada, Senhor.

Essas duas palavras mudaram pra sempre a minha maneira de enxergar adoração a Deus. Essas duas palavras me apertam o estômago todas as vezes que eu canto "Te louvarei, não importam as circunstâncias. Adorarei somente a Ti, Jesus". Talvez a minha tia não saiba, mas eu sempre me lembro dela quando penso no que significa não retroceder jamais e adorar, agradecer e engrandecer a Deus por quem Ele é e não pelo que Ele pode fazer por mim.

O meu tio criou uma ONG pra ajudar pessoas carentes que têm alguma criança com câncer em suas famílias com assistência psicossocial e financeira, apoio logístico, assistência jurídica e medidas de integração social. Além disso, a ONG acaba sendo uma ótima oportunidade pra fortalecer essas pessoas na certeza da gloriosa Esperança!

De todas as coisas que eu aprendi com essa história, uma das mais importantes foi entender que a vitória que eu espero ter nem sempre é o que mais vai honrar o nome de Deus e que, mesmo que a minha vitória não venha e que o meu pedido não seja atendido, eu preciso buscar compreender o amor de Deus de uma forma tão plena que, um dia, consiga cantar com toda a certeza da minha alma: Senhor, eu te louvarei não importam as circunstâncias.

Comentários

  1. Emocionante relato, me tocou muito. Adorar a Deus independente do que Ele pode me proporcionar de bom ou de ruim ainda tenho muito que aprender.

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  2. Reviver isso é muito forte e continua doloroso e emocionante.Ja consegui adorá-lo em situações difíceis, mas, hj que sou mãe nem imagino como seria isso se perdesse uma das minhas três filhas, quem dirá se tivesse apenas uma...estou aprendendo a agradecer sempre sem importar as circunstâncias e "ainda que a figueira não floresça e a videira não dê o seu fruto, todavia eu me alegrarei no Senhor". Que Deus nos mantenha firmes na esperança da eternidade...sempre.

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